Cabo da PM denuncia assédio e sofre dupla punição: processo administrativo e perda de porte de arma
Salvador – 10 de setembro de 2025 – O combate ao assédio nas forças policiais da Bahia ganhou destaque nesta quarta-feira (10) durante o 2º Encontro Empodere-se – Rondas Policiais Seguras, realizado no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). O evento foi promovido pelo Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (CINDPOC) e reuniu representantes da Polícia Militar, Polícia Penal, Polícia Científica e entidades femininas de todo o estado.
Um dos momentos mais impactantes foi o relato da Cabo Adjaneara, da Polícia Militar, que denunciou ter sofrido assédio sexual e moral dentro da corporação. A policial explicou que, há pouco mais de um mês, formalizou uma denúncia ao comandante-geral, autoridade máxima da PM, equivalente a um CEO da corporação, pedindo atenção ao caso.
“Além do assédio, sofremos duas punições: o porte de arma foi suspenso e fiquei impedida de promoção. É como se denunciar fosse uma sentença dupla”, relatou a cabo.A Cabo Adjaneara destacou ainda que mulheres que denunciam dentro da Polícia Militar enfrentam diversas formas de perseguição e retaliação, mas reforçou que não vai desistir da luta:
“Continuo enfrentando perseguições, mas não vou recuar. Minha luta é para que outras mulheres não passem pelo que estou passando”.Durante o evento, outros relatos de assédio foram compartilhados por integrantes da corporação, evidenciando que o problema é mais comum do que se imagina. Especialistas e líderes do setor de segurança pública defenderam a criação de políticas de proteção, fiscalização rigorosa e medidas transparentes para punir abusadores e apoiar as vítimas.
O CINDPOC reforçou que o objetivo do encontro é consolidar um ambiente respeitoso, seguro e acolhedor, onde profissionais da segurança pública possam exercer suas funções sem medo de abusos ou perseguições.
Assédio nas forças policiais da Bahia: um problema estrutural
O caso da Cabo Adjaneara evidencia que o assédio nas forças policiais da Bahia não é apenas um problema isolado, mas estrutural. A denúncia ainda é vista como um risco à carreira das mulheres que se posicionam, criando barreiras para que denunciem abusos.
“A policial Ana Carla esclarece que não pediu para sair do Batalhão da Mulher. Segundo ela, foi informada de que deveria escolher outro local para trabalhar. Ana Carla reforça que, em nenhum momento, solicitou a saída da unidade, pois gostava de atender e cooperar com as ações em favor das mulheres vítimas de violência.”
O debate no plenário da ALBA reforçou que a transformação da segurança pública depende do engajamento coletivo, da cultura institucional que valorize a dignidade profissional e da coragem de quem decide denunciar, mesmo diante de múltiplas retaliações.
